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Existe uma arte visual japonesa na qual o artista é forçado a ser espontâneo. Ele deve pintar em um fino pergaminho esticado, com um pincel especial e tinta d´água (preta), de uma maneira que uma pincelada não muito natural, interrompida bruscamente, destruirá o pergaminho. Correções ou mudanças são praticamente impossíveis…

Isso é Kind of Blue, um dos mais cultuados álbuns de jazz da história.

Gravado em apenas duas sessões de estúdio, nos dias 2 de Março e 22 de Abril de 1959, é um registro fiel de uma era. Tudo soa espontâneo, nenhuma regra a ser seguida, apenas o sentimento.

Nele, Miles Davis conseguiu reunir pelo menos quatro gigantes: Bill Evans com seu toque introspectivo no piano, os saxofonistas John Coltrane e Cannonball Adderley e o fantástico baixista Paul Chambers, que auxiliados pelo baterista Jimmy Cobb, um verdadeiro metrônomo e o pianista Wynton Kelly, que tocou apenas na faixa 2, fazem uma cama do mais alto luxo para Miles deitar e rolar.

A faixa de abertura, So What, é hipnotizante. O baixo apresenta o tema, que se resume em uma simples melodia calçada por apenas dois acordes.

A faixa dois, Freddie Freeloader, é um bom e velho blues tradicional com um solo fantástico de Wynton Kelly ao piano que nos leva a um lugar imaginário onde nunca estivemos.

Blue Green, faixa três, tem uma melodia densa e harmonia bastante complexa.

O clássico All Blues, já tocado de diversas formas mundo afora, encanta pela beleza dos improvisos. É Miles em sua plenitude, seguido muito de perto por Cannonball e John.

Flamenco Sketches fecha o disco com chave de ouro, um belíssimo tema com os músicos superando-se em solos de altíssimo nível.

Kind of Blue não foi só um disco, foi um projeto de vida, classificado como o “suco de laranja diário” de toda uma geração de músicos e jazzófilos de todo o mundo.

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