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Conheci o maestro Cristovão Bastos em 1991, ao fazer uma substituição para o baixista Jorjão Carvalho em uma temporada do show do ator e cantor Luiz Armando Queiróz, no Rio Jazz Clube. Naquela época, Cristovão já era o arranjador e pianista de uma pá de gente famosa como Paulinho da Viola, Simone, Chico Buarque e Gal Costa. O que mais me chamava atenção no mestre, além da sua musicalidade e genialidade, era a sua simplicidade e o modo carinhoso como tratava os músicos durante os ensaios e apresentações. Pessoa rara esse camarada.

Gravado em 1996, o álbum Avenida Brasil prima pela inovação nos arranjos e mostra uma característica bem peculiar em sua obra: a forma simples de tocar o piano em partes complexas. Os Três Chorões, um choro executado em compasso ternário, começa com o mestre apresentando o tema em um piano ad libitum. Depois, ele força os músicos, Mauro Senise e Ricardo Pontes nas flautas, Carlos Balla na bateria, Jorjão Carvalho no baixo e Armandinho e Zero na percussão – todos com milhares de horas de voo – a suarem a camisa para executá-lo com tanta beleza.

Vindo de Marechal Hermes, no subúrbio do Rio, Cristovão também tocou nos bailes da vida em boates e gafieiras e fez parte da famosa Banda Black Rio, em sua primeira formação. Também participou de diversos grupos de música instrumental em viagens pela Europa, mostrando todo o seu talento ao executar composições próprias e standards de jazz, como faz quase em tom de desafio na dificílima Round Midnight, aqui vestida com roupagem de choro, capaz de encantar ouvintes em qualquer lugar do mundo. Música para músicos classudos como ele.

Cristovão segue sua carreira, agora tocando com o grande Edu Lobo  e já tem guardado seu lugar na calçada da fama da música brasileira, no mesmo patamar de Pixinguinha, Jacó Radamés, Moacir Santos e tantos que só elevaram nossa música. Sim, ia me esquecendo, esse álbum é o primeiro disco de solo de Cristovão, depois de mais de trinta anos de carreira.

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